27 de agosto de 2013

Lei Rouanet, entenda a polêmica

Quem costuma pesquisar e viver cercado por informação de moda sabe que um desfile custa caro. Do processo de produção das peças que serão apresentadas, até a hora em que os ilustres convidados, compradores, investidores e jornalistas sentam na disputada fila A. O que acontece é que um desfile fora da semana de moda já é caro, imagine dentro. E se for nas semanas de moda do eixo New York/Paris/London/Milan pode-se imaginar um preço na casa dos milhões. É o que, por exemplo, Pedro Lourenço, Ronaldo Fraga e Alexandre Herchcovitch pagam ao apresentarem suas coleções em palcos com tanta visibilidade.


Recentemente no Brasil, foi sancionada a Lei Rouanet, que tem como base a proteção, valorização e promoção das expressões culturais. Ou seja, encorajamento ao desenvolvimento cultural em sua mais plena e variada forma como música, teatro e arte. O ponto é: Moda é Arte? 

Há quem diga que sim, defendendo os pilares da moda que referem ideias culturais distintas como inspiração para suas obras, mais fácil de entender, são os "movimentismos" da moda. Tropicalismo, como ideias que remetem ao clima tropical brasileiro, praia, frutas, pássaros, Rio de Janeiro, Cristo Redentor e etc. Ou inspirações artísticas em outros criadores de arte, como poetas escultores e artesãos do nordeste brasileiro. Cangaceiros, sertão, Beto Pezão, a negra mulata, todas ideias de grandes escultores e artistas, que passaram a aparecer em desfiles do Fashion Rio e SPFW.

Mas, há os que dizem que a moda não é arte, uma vez que arte toda já foi produzida antes de ir às passarelas, e opõem que os desfiles não podem ser comparados a exposições de arte em museus e galerias, já que a lista de presentes em sua maioria é restrita a convidados, investidores, compradores e jornalistas, não tendo público aberto, isso já sendo um motivo forte para negar a moda como expressão artística democrática e livre, pois nem todos terão acesso a essa "arte".

Voltando dois parágrafos atrás, eu falei que a Lei Rouanet encorajava o desenvolvimento cultural. Encorajar no sentido de incentivos fiscais. Os estilistas, ou artistas, segundo seus projetos entregues à CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura) onde serão avaliados, receberão dinheiro público para financiar projetos artísticos. E que projetos artísticos são esses? Desfiles de suas coleções em semanas de moda internacionais.

Para entender melhor, vamos aos valores. Lembra dos três grandes estilistas citados como exemplo no início do artigo? Alexandre Herchcovitch, desfila desde muito tempo em semanas de moda internacionais, muitas vezes financiados por ele mesmo. Mas, com os incentivos da lei Rouanet, ele receberá um benefício de 2,6 milhões de reais para contemplar seus projetos de São Paulo Fashion Week e New York Fashion Week ainda em 2013 e em 2014. Desfiles femininos sobre o tema do movimento artístico antropofágico.

Pedro Lourenço, receberá um benefício de 2,9 milhões de reais, para produzir cultura, e sua coleção, e apresentar sua obra nas semanas de moda de Paris, que vale lembrar, é a semana de moda mais importante e consequentemente a mais cara do mundo. Considerando que esses desfiles terão um público altamente restrito e selecionado. Mas em defesa de Lourenço, Marta Suplicy, amiga íntima, aprovou seu projeto com a ideia de que irá gerar empregos na área de confecção e por todo o processo, há também em seu projeto workshops de moda. Criando arte, claro. Vale lembrar também que o grande prodígio da moda, é considerado um dos maiores estilistas da nova geração, com pais que não são nada mais, nada menos que a grande Glória Coelho e o gigante Reinaldo Lourenço, claro que filho de peixe, peixinho é. E estamos falando de peixe, mesmo. Mais poderoso em arte e em dinheiro. Afinal ir à Paris e ficar invisível é uma brincadeira cara, como bem dito pelo site FFW - de onde tirei muitas informações que me ajudaram a fazer esse artigo.

E ainda temos o outro grande orgulho da arte e moda brasileira, Ronaldo Fraga. Para contemplar seu projeto que tem suas coleções inspiradas em Mario Andrade, João Cabral de Melo Neto e Espedito Seleiro. O estilista receberá um benefício de 2 milhões de reais, para produzir e mostrar o resultado final na semana de moda de São Paulo.

Resumindo, a grande polêmica em torno da moda e da lei Rouanet está na questão: Moda é arte? E se for, deve ser incentivada com dinheiro público, para desfiles que pouquíssimos terão acesso? Ou criações caríssimas que irão ser reservadas a compradores e seus closets? 

Como autor, penso que a moda em sua resolução fashion não é arte, moda artística que vai nas bases de diferentes materiais e inspirações, sim, isso demanda uma avaliação muito mais profunda a uma simples estampa de tucano. Mas me mantenho imparcial, por aqui. E você? O que me diz?